Sex | 11.07.14
UM ESPELHO,DOIS REFLEXOS
"Humilhada como era,mais os meus colegas negros e os meus irmãos,e ainda pressionada pela educação preconceituosa e subserviente dos meus pais,o que me restava para manter penso eu,alguma dignidade,era refugiar-me em mim mesma.Nos meus pensamentos medrosos e num pavor estranho,que instalado em mim desde que me sinto como pessoa.Não me libertou e retirou-me qualquer réstia de credebilidade que eu pensava poder ter em relação ao meu futuro e dos meus.Hoje olhando para trás,não consigo culpar os meus pais.Eles,pessoas que assumiam o seu lugar marginal na sociedade como algo certo,nem se esforçaram, dentro de casa,de modo clandestino ou subversivo,incutir-nos uma consciencia das nossas origens e importancia.Pelo contrario,entregues a si mesmos após o 25 de abril,os dois não souberam construir um mundo á sua imagem.A revolta,a impotencia perante o racismo e o preconceito bem visivel,mas muitas vezes camuflado em ajudas cinicas,eivadas de moralismos patrioticos,distanciaram ainda mais os meus pais da sociedade que os acolheu,pelas circustancias do golpe de estado.
Chegados a Portugal,com África sempre dentro deles,e com um país muito diferente,onde a lingua era o que mais se assemelhava,os meus pais como a esmagadora maioria dos africanos,acolheram-se uns aos outros em estranhos guetos onde reproduziram com uma deslocada parecença á realidade social que conheciam.Para eles era uma questão de sobrevivencia,para os portugueses era uma tranquilidade.Cada um no seu mundo,viviam a sua realidade quotidiana e evitava-se discretamente qualquer tipo de entrosamento mais intenso."
"Texto tirado do livro,Um espelho,dois reflexos."
