E então o meu cabelo?
Sinceramente ás vezes não acredito que estou a viver em portugal!Como mulher tenho as minhas vaidades e uma delas é o meu cabelo.O meu cabelo é crespo e sendo filha de africanos negros o meu cabelo é do mais crespo possivel.Até aos meus 23 anos andava com ele natural,afro!Quando ingressei na escola hoteleira achava que a minha afro não combinava com o típico chapéu de cozinheiro e a imagem que me vinha à mente era a cabeleira de um palhaço dos lados.Imaginem um chapéu alto de cozinheiro em cima de um cabelo afro!Estão a imaginar?
Isso mesmo,um palhaço!Então resolvi alisar o meu cabelo e apartir desse momento fiz mil e umas coisas ao meu cabelo.Menos usar afro!Sinceramente não faz o meu estilo!Claro que hoje em dia está na moda usar-se assim, o cabelo ao natural mas á 20 anos atrás era motivo de risota e gozo.Não me estou a queixar e sei que muitas pessoas vão achar que estou a renegar a minha raça ou que me quero branquear!Não estou a faze-lo de modo algum,aliás tenho orgulho de ser quem sou,negra como o ébano !Só acho que Deus foi um pouco injusto com o nosso cabelo.
Vivo no montijo e ao contrário de lisboa vivem poucos negros. E eu como vivo num bairro esclusivamente branco, poucos negros vejo! Aí é que está minha indignidade!Como sou uma mulher que alisa o cabelo praticamente de 3 em 3 meses tenho que ter o produto químico que o faz ficar liso.O meu dilema é aonde encontrar esses produtos?Pois não existem produtos para cabelos africanos em qualquer esquina!
Á uns dias atrás vinha uma reportagem no jornal Publico com Ana Sofia sobre cabelos africanos.O título chamava-se"Cabelo Afro,Uma coroa de espinhos?"
Sim pode-se dizer que o cabelo afro é uma coroa.Não de espinhos mas sim uma magestosa e imponente que nos liga á nossa identidade e á nossa cultura.A reportagem está muito bem feita e tocou em todos os pontos do que é ser negro em Portugal.
Vivemos numa era em que tudo que queremos está ao nosso alcance,tudo,menos produtos africanos seja ele qual for.Aqui onde vivo nada existe para africanos,é como se tudo tivesse sido concebido para outros menos para os negros.Não estou a referir o racismo,porque não quero entrar em questões políticas.Só sou uma mulher vaidosa que quer ter direitos como cidadã no país que nasceu.Não quero ter que atravessar a ponte para ir á procura de um produto nos cofins da cidade de lisboa para tratar do meu cabelo.
Quero chegar a um cabeleireiro e dizerem "sim tratamos do seu cabelo"!Quero entrar num supermercado e encontrar champoos para cabelos crespos ou carrapinhas,quero entrar numa loja de maquilhagem e ir directo a produtos de beleza de acordo com a cor da minha pele.Vivemos numa era em que cada um pode ser o que quiser e o que quer.
Adoro a minha cor mas não gosto do meu cabelo afro,uso tranças,uso cabelo curto,uso liso e agora uso extenções.Para mim o afro fica bem a todos os outros menos a mim.Adoro ver uma cabeleira farta como da minha filha,das minhas sobrinhas,das minhas irmas,da minha falecida mãe que nunca deixou de usar a sua imponente afro e também da Ana Sofia.
Para mim não tem haver com cores nem com renegar as minhas raizes africanas,tem haver com uma questão de estética do meu ser.Nunca me achei uma mulher bonita mas depois de alisar o meu cabelo comecei a sentir-me mais bonita sim.Tem a ver com uma questão de auto estima,de me sentir bem comigo mesma.Sofia na reportagem diz que com a sua afro a faz sentir diferente,pois o meu cabelo liso e com extenções também me faz sentir diferente, e não só mais uma mulher negra parante a sociedade que me rodeia.A cabeleira afro está na moda sim mas não para mim.Gosto de quem sou,gosto de ter o meu cabelo liso e isso não indica que estou a negar os meus antepassados,estou a querer que tenham orgulho de nós e que vejam até onde chegamos.Hoje somos livres e nenhuma corrente nos prende,nenhum chicote nos faz mover.A minha cor é a minha identidade e o meu ser.Foi por isso que criei este pequeno blog,para mostrar a minha voz e a voz de quem quiser,que a mulher negra também é mulher e que as suas escolhas são suas e não da sociedade em que vivemos.Claro que ainda temos um longo caminho a percorrer mas se nos unirmos,juntas chegamos lá.