Portugal: população negra, população invisível
Este e um artigo que encontrei por ai que vem constatar a existencia do meu blogue,uma luta contra a invisibilidade dos negros em todos os aspectos desta sociedade.Continuo a dizer que o meu blog não pretende ser uma plataforma politica,mas tem dias em que me aptece tomar uma posição mais radical e gritar o que me vai na alma!
É engraçado fazer telenovelas com pessoas negras,é engraçado ir a uma discoteca ouvir e dançar musicas africanas,usar tecidos africanos,fazer modas africanas como as danças,comida,referenciar países africanos como grandes paraísos.
Mas a maior hipocrisia é não nos aceitarem como parte da população.
É hipócrisia eu querer entrar numa discoteca para me divertir e não poder entrar porque sou preta ou o grupo com quem estou somos todos pretos.Mas a musica que está a passar lá dentro é africana!Ou numa lady"s night eu ter que pagar para entrar num bar para me divertir quando as clientes brancas á minha frente entraram sem pagar.
É hipocrisia eu entrar em certas lojas e logo atras de mim ter um segurança a seguir os meus passos.
É cansativo remar todos os dias contra a maré e encontrar portas fechadas porque o blog não encaixa nos parametros da sociedade.Pois hoje estou farta,cansada da hipocrisia,das mentiras,da hospitalidade que temos neste país.Cansada das instituições e pessoas que fingem importar com raças e cores.
Falar é facil e bonito para quem está lá em cima mas para aqueles que vivem esta realidade no dia a dia,está cada dia mais dificil de manter o equilibrio para ver a razão dos 2 lados.
É hipocrisia tentar fazer um blogue para os meus pares e eles proprios serem um obstaculo e enfiarem a cabeça na areia,porque tudo o que estou a fazer é me expor ao ridiculo, tenho que aceitar a minha condição,ser invisivel e não levantar ondas porque vai ser sempre assim.Pois hoje estou farta,cansada da hipocrisia,das mentiras,da hospitalidade que temos neste país.
Nós também somos culpados,culpados de não nos apoiarmos uns aos outros,culpados do deixa andar,culpados na nossa desunião,culpados da nossa desorganizção,culpados na nossa falta de alento,culpados de não levarmos os estudos para a frente,culpados de não sairmos dos nossos bairos sociais ou pequenas africas!E principalmente culpados por não lutarmos pelos nossos direitos como cidadãos de um país que também é nosso!Hoje estou fodidamente cansada e resolvi vomitar o que penso!
Este foi o artigo que encontrei e que fala um pouco da nossa situação neste país.Não sem quem é José Duarte mas o artigo está verdadeiro e bem escrito.
O Estado português não elabora ou não divulga dados estatísticos sobre a comunidade negra no país e alimenta a crença de um Portugal não racista que trava a luta por direitos iguais e contribui para a não existência de verdadeiras políticas de inclusão.
Como vivem os negros em Portugal? Em que condições nascem? Têm a mesma protecção na primeira infância que uma criança branca? Têm as mesmas facilidades de acesso à rede de creches e jardins-de-infância? Como se dá o seu ingresso no Ensino Básico? De que forma se integram no ambiente escolar? Quantos dos que ingressam no Ensino Básico conseguem atingir a escolaridade obrigatória? É verdade que a taxa de insucesso escolar é maior entre os negros, em especial quando estes são mais pobres? Porquê? Em que condições ingressam e frequentam o Ensino Superior? Sempre se confirma que o número de negros que frequentam as universidades é proporcionalmente inferior ao número de africanos inscritos nos ensinos Básico e Secundário?
Mais: Quais os empregos onde prevalece a mão-de-obra negra? De que categorias profissionais os africanos e afro-descendentes estão mais ausentes? Qual a relação entre precariedade, baixos salários e cor da pele? O tom de pele dificulta o acesso a cuidados de saúde? A protecção social contribui para o esbater das barreiras raciais? Quantos negros conseguem adquirir casa própria? Que constrangimentos encaram no mercado de arrendamento? A habitação social responde a todas as necessidades de habitação sentidas pela população africana e afro-descendente? Em que condições vivem os negros sem documentos? De que forma a violência policial afecta a comunidade negra? Qual a percentagem de negros entre a população prisional?
Estas e outras perguntas são de difícil ou mesmo de quase impossível resposta exacta. Isto porque as estatísticas oficiais portuguesas não estão organizadas consoante os grupos étnicos, povos ou culturas. Tal tratamento é, aliás, proibido pela Constituição e pela Lei de Protecção dos Dados Pessoais.
Enterrar a cabeça na areia
Mesmo que alguns organismos públicos disponham desses dados, eles não são tornados públicos. No contexto europeu, apenas o Reino Unido, a Irlanda, a Holanda e a Finlândia abordam as estatísticas de forma distinta da portuguesa, a que se juntam, a nível mundial, o Brasil e os Estados Unidos.
Tal opção política é suportada por altos funcionários do Estado. Rosário Farmhouse, ex-presidente do Alto Comissariado para as Migrações, chegou a defender, em declarações ao Público em 2012, que tal mudança de orientação traria mais malefícios que benefícios e que a manutenção desta medida evita “criar mecanismos de catalogação”. Esta tomada de posição tem eco em sectores do mundo académico, que temem que o tratamento estatístico em função da cor da pele possa contribuir para o estimular de discursos e atitudes racistas, agora com base em números.
Sucede, porém, que a ausência de dados concretos ajuda a alimentar a crença de um Portugal não racista, um país que acolhe o estrangeiro e o coloca em pé de igualdade com os cidadãos portugueses ou que considera da mesma forma todos os nascidos em solo português, mesmo que com tom de pele diferente ou filhos de estrangeiros. Longe de contribuir para o combate ao racismo, esta orientação política no tratamento das estatísticas oficiais não favorece o estabelecimento de verdadeiras políticas de inclusão. Antes pelo contrário, empurra para debaixo do tapete atitudes discriminatórias tomadas pela sociedade em geral e pelo Estado em particular.
Em resumo, a persistência desta metodologia cristaliza um pensamento assente numa falsa ideia de convivência entre grupos populacionais de várias origens quando, no dia-a-dia, largas camadas da população negra são empurradas para as margens da sociedade em função da sua origem ou cor da pele, os moradores dos bairros sociais e de comunidades negras são frequentemente vítimas de racismo e violência policial, as suas casas são alvo de despejos, etc. Por último, esta directriz constitui um entrave à tomada de consciência dos negros e imigrantes dos seus direitos e à luta pelo seu cumprimento, numa demonstração assaz cínica de que o exercício do poder passa também pelo controlo da informação.
José Duarte