Emancipação,ousadia de ser negra e chegar aos 50 anos!
Falta um mês para eu completar 50 anos. Cinquenta anos de existência, resistência e reinvenção. Sendo negra, muitos esperariam que eu já estivesse cuidando dos netos, ajudando o marido e os filhos, resignada ao papel que a sociedade traçou para mim.
Deveria aceitar os brancos do meu cabelo sem questionar, ser cuidadora, trabalhar nas limpezas, usar uma bata e um lenço de seda colorido na cabeça. Esse é o olhar de quem nunca me apoiou, de quem sempre me criticou.
A visão familiar. A visão patriarcal. A visão negra.
Por muito tempo, deixei que essas expectativas me aprisionassem. Me escondi atrás de uma timidez que me incapacitou. Mas hoje, eu reivindico cada pedaço de quem sou.
Sou mãe, sou esposa, mas, acima de tudo, sou mulher!
Mulher ousada, mulher incrível, mulher resiliente que, dia após dia, luta para romper os grilhões de preconceitos e fardos impostos por uma sociedade que insiste em me limitar.
Nasci em um país livre, mas ainda sinto as correntes de um continente que teimam em me cercar.
Quero ser livre! Quero libertar essa parte de mim que se esconde atrás das lentes de uma câmera fotográfica. Essa parte que registra o mundo sozinha, em silêncio, com vergonha de algo que nunca esteve errado. Quero expor minha arte, minha personalidade, minha força – tudo o que me foi negado por causa da minha cor, da minha origem, da minha própria história.
Aos 50, não peço permissão. Existo, resisto e celebro cada parte de mim. Minha voz, minha história, minha liberdade,meu corpo tudo isso me pertence. E que fique claro: não volto mais para a sombra. Agora, sou luz!
Hoje me permito ser quem sou. Me permito gritar, sem medo:
Free at last, free at last!
Elsa Varela.